BIBLIOTECA!

Estremoz precisa de uma biblioteca que seja também um espaço que contenha todo o arquivo histórico da Câmara, um dos mais completos do país, porque não sofreu as consequências de terramotos, de inundações ou incêndios.
Quando se projecta uma biblioteca, a questão que se deve colocar é a de saber se não existem locais na cidade, já edificados, para a sua instalação, com dignidade suficiente para albergar um espólio histórico desta natureza, para além do acervo propriamente dito da biblioteca, bem como, que tenha condições para a sua utilização por parte dos estudantes, historiadores, curiosos, leitores, interessados, turistas, de entre muitas outras pessoas.
Perante esta realidade foi projectada a construção de uma biblioteca de raiz, nas traseiras da Câmara Municipal de Estremoz, projecto com o qual sempre discordei, quer pela sua localização, quer porque existem edifícios em Estremoz com dignidade e espaço suficiente para albergar a biblioteca, que conferem uma nova vivência a esses espaços e ao local onde se encontram, criando novas vivências na cidade.
A recente aquisição pela Câmara do Palácio dos Marqueses da Praia e Monforte, um edifício representativo do barroco civil em Estremoz, cuja dignidade e monumentalidade deve ser preservada, mas, para mim, esta aquisição só faz sentido se for para albergar a biblioteca de Estremoz.
É um edifício imponente, com salões amplos e espaçosos, uns decorados a estuque, outros com frescos, que lhe conferem uma dignidade e sumptuosidade que merece ser preservada e vivida, o que acontecerá se a biblioteca for instalada naquele espaço.
A sua localização no centro histórico de Estremoz, mas não no Rossio ou junto à Câmara, permite-lhe conferir toda uma nova vivência naquela zona, dando-lhe uma vertente cultural para além da habitacional e comercial que já existe, sendo um local de excelência para a cultura.
A sua compra e recuperação é, para mim, muito mais importante e confere a quem for o responsável político pela mesma, mais importância do que a construção de mais um edifício para uma biblioteca, pois representa uma preocupação com a história da cidade, com o património edificado, com a sua preservação, com a sua dignidade e procura de novas utilizações, dando uma nova vivência a edifícios vazios e zonas da cidade que serão revitalizadas.
Em termos urbanísticos, ficar ligado à recuperação e preservação de património histórico é muito mais importante e confere maior relevo ao decisor político do que a mera decisão de construir novos edifícios, quando, simultaneamente, existem outros com necessidades de intervenção, em locais importantes da cidade e com capacidade para serem utilizados para outras valências.
Instalar a biblioteca de Estremoz no palácio dos Marqueses da Praia e Monforte é uma decisão política que enaltece quem a tomar, pois será recordado por ter defendido o património histórico de Estremoz, conferindo-lhe novas utilizações e por ter dado vida a zonas e edifícios da cidade.

Luís Assis

Publicado também no jornal BRADOS DO ALENTEJO nº 744 (16-10-2010)