AQUI D'EL REI

Imagem recolhida do blogue ESTREMOZ EM DEBATE

Há muito que se assiste em Estremoz a uma utilização indevida e ilegal do espaço público, que é um espaço de todos nós. E tal acontece porque alguns, num exercício abusivo de cidadania, fazem uma interpretação errónea do conceito de público e o adaptam à medida das suas conveniências pessoais, sejam elas permanentes ou temporárias. Os outros que se lixem! Autoridade? O que é isso?

ESTACIONAMENTO
Estaciona-se de qualquer maneira: em fila dupla, mesmo em cima da curva, em locais de estacionamento proibido, em cima do passeio, a bloquear o acesso a garagens, a condicionar a entrada e a saída em locais de estacionamento destinados a deficientes. Estaciona-se parcialmente em cima de passadeiras de peões e em locais reservados a carga e descarga. Porquê? Porque dá jeito! Código da Estrada? O que é isso? Plano de Trânsito? O que é isso? Autoridade? O que é isso?

CIRCULAÇÃO DE PEÕES
A circulação de peões nos passeios começa por estar condicionada ao espaço deixado livre pelo estacionamento em transgressão. Começa, mas não acaba. Há passeios onde não se consegue transitar porque estão ocupados por grades de botijas de gás. Há passeios onde vasos com grandes dimensões dificultam o trânsito pedonal. O que é isto? É uma ponta visível do iceberg. Porém, há mais. Torna-se necessário ter cuidado ainda com os sinais de trânsito e com os toldos, que muitas das vezes não respeitam a altura regulamentar. Porquê? Porque dá jeito! Regulamentos? O que é isso? Autoridade? O que é isso?

HIGIENE E SALUBRIDADE
Deita-se lixo fora dos contentores, porque às vezes eles estão cheios. Sabem porquê? Porque há quem continue a ignorar a existência de eco pontos e continue a deitar nos contentores do lixo, embalagens de plástico e de cartão, por vezes de grandes dimensões.
Também junto aos contentores se verte lixo pesado ou de grandes dimensões, fora dos dias em que está regulamentada a sua recolha. E há ainda quem vaze lixo a granel dentro dos contentores.
Porquê? Porque dá jeito! Regulamento de Recolha de Lixos? O que é isso? Plano de Salubridade? O que é isso? Autoridade? O que é isso?

POLUIÇÃO VISUAL
A cidade parece uma enorme coutada da EDP e da Cabovisão, sobretudo da primeira. Ao longo do tempo têm maculado as paredes e o espaço aéreo com emaranhados irregulares e caóticos de cabos negros, que muitas vezes, bamboleantes, atravessam as ruas de um lado para o outro. Isto foi uma “cidade branca” na voz autorizada do poeta Silva Tavares. Agora é uma selva em que os cabos negros desempenham o papel de lianas.
Porquê? Porque dá jeito! Onde estão as normas de colocação de cabos? O que é isso? Plano de protecção da paisagem urbana? O que é isso? Autoridade? O que é isso?

A VOZ DO POVO
Diz-se por aí que algumas das situações de utilização indevida do espaço público, nunca foram alvo de licenciamento. O mesmo se diz de toldos de alguns estabelecimentos comerciais e de esplanadas de alguns cafés. Será verdade? É a voz do povo. E que o povo fala, fala. Mesmo quando alguns não querem que ele fale.

SEM REI NEM ROQUE
É altura de fazer um balanço de tudo o que atrás foi dito e fazer a sacramental pergunta:
- De quem é a culpa?
Eu respondo:
- A culpa é de todos os prevaricadores que nutrem um olímpico desprezo por tudo aquilo que é público, o qual interpretam como sendo exclusivamente seu.
- A culpa é igualmente daqueles que mansamente assistem à violação dos seus direitos e não reagem.
- A culpa é finalmente daqueles que vocacionados para o exercício do dever de fazer respeitar a coisa pública, estão distraídos com outros afazeres.

REPÚBLICA DAS BANANAS
Estamos em ano de Comemorações do Centenário da República Portuguesa, mas uma vez que isto anda “Sem Rei nem roque!”, é caso para clamar:
- Aqui d’El-Rei!
- Se isto é uma República, eu quero ser monárquico!
- Voltai El-Rei, que sereis perdoado!

 Publicado também no jornal ECOS, nº  94 (21-10-20109)

Parabéns Evoramonte

O Castelo de Evoramonte  foi considerado uma das 7 Maravilhas do Alentejo.





Evoramonte e os evoramontenses estão de parabéns.

Como estão de parabéns:

o seu presidente da Junta de Freguesia, Bruno Oliveira;
o presidente da LACE - Liga dos Amigos do Castelo de Evoramonte, Eduardo Basso;
o município de Estremoz;
e todos aqueles que têm contribuído, de uma forma ou de outra para a manutenção e divulgação daquela preciosidade.

Caros leitores,

Subam a Evoramonte
e deliciem-se com a deslumbrante paisagem que se avista da torre do Castelo.

Totós

Tenho para mim que há brigas que não fazem sentido. As greves em França por causa do adiamento da idade da reforma de 60 para 62 anos enquadram-se nesta categoria. Curiosamente, a Alemanha já tomou este ano idêntica medida – adiando a idade de reforma dos 65 para os 67 anos – e, ao contrário do que está a acontecer em França, tal acção não provocou tanto alarido. Eu compreendo que na óptica individual daqueles que estão à beira duma reforma em relação à qual alimentaram expectativas, esta greve até faça sentido. Porém, se as pessoas pensarem um pouco facilmente concluem pela tremenda injustiça deste modelo relativamente ao futuro dos seus filhos e netos.
A explicação é simples: se alguém quiser, sem a intervenção do Estado, amealhar a sua própria reforma, vai precisar de 47 anos de poupanças para conseguir uma pensão de valor igual ao do último vencimento enquanto activo. Isto num contexto de uma esperança de vida de 80 anos. Isto sem pensar nos outros, ou seja, sem qualquer tipo de solidariedade social, sem dias de baixa, sem nunca estar desempregado, sem nunca obter qualquer tipo de apoio médico ou medicamentoso subvencionado pelo Estado.
Perante este cenário – que se tem vindo a agravar, com o prolongamento da longevidade – não consigo descortinar qualquer razão pertinente, dotada de um mínimo de racionalidade, que explique o motivo pelo qual vejo jovens de 20 e poucos anos a darem o seu apoio às greves em França. Será que aqueles totós ainda não entenderam que só estão a prejudicar-se a si próprios? Um jovem de 21 anos que comece agora a trabalhar, se depender só de si próprio e se não houver nenhum azar, só aos 68 anos poderia aspirar à reforma. Agora vamos lá abrir a pestana: se ele consentir que os mais velhos se reformem aos 60 anos, então isso significa também que 8 dos seus anos vão ser dados a outro, logo ele só vai conseguir reformar-se aos 76. Em alternativa, reforma-se também aos 60 anos mas leva a pensão correspondente a menos 16 anos de contribuições (8 dele + 8 daquele por quem agora está a fazer greve) e “contenta-se” com uma reforma de cerca de 33% do valor do último vencimento. Ah valentão, acabaste de fazer figura de urso...
Aliás, Sarkozy também está a ser totó... Deixemo-nos de tretas, o actual modelo de pensões é inviável, portanto, mudem-se as regras e acabe-se de vez com a idade da reforma. Cada um reforma-se quando quiser, contando para o efeito com 2/3 das suas próprias contribuições e ainda com a sua quota-parte do remanescente de um fundo de solidariedade social criado (com 1/3 de todas as contribuições) para acudir, em primeiro lugar, aos verdadeiramente necessitados. Se chega, tudo bem; se acha pouco, trabalhe mais tempo. Com um modelo destes ainda se salvaria alguma solidariedade social e impedir-se-ia a tremenda injustiça que actualmente está a ser cometida sobre os mais jovens, que sendo cada vez menos trabalham para cada vez mais.

Publicado na edição n.º 747 do Jornal Brados do Alentejo (28Out2010);
Também publicado em ad valorem;
As imagens foram colhidas nos sítios para os quais remetem as respectivas hiperligações.


Enfrentando a realidade


A história é simples de contar e de compreender. Portugal chegou à Europa em 1986 com um atraso estrutural, muitos problemas económicos e sociais por resolver, e uma baixa produtividade. Para superar estas sérias deficiências, a Europa mandou umas ajudas muito generosas. Infelizmente, todos esses avultados recursos foram essencialmente consumidos, e só em muito menor medida investidos e utilizados na recuperação do atraso estrutural. O nível de vida dos portugueses melhorou, mas não a sua produtividade. Os portugueses gostaram tanto que votaram em quem lhes prometeu dinheiro fácil e um nível de vida de país rico.
Quando os fundos europeus deixaram de ser suficientes para financiar uma economia profundamente estagnada, de baixa produtividade, mas com um nível de vida de país rico, Portugal descobriu o endividamento externo. Beneficiando do euro e das taxas de juro muito baixas, os portugueses, as empresas, e o Estado tudo financiaram com o dinheiro dos outros. Quando rebentou a crise financeira, Portugal encontrava-se na delicada posição de ter passado uma década economicamente estagnada mas generosamente financiado pelos mercados financeiros internacionais. Uma década em que os portugueses votaram alegremente em quem lhes disse que o endividamento externo nunca seria um problema.
Agora com as taxas de juro muito mais altas e sem ter feito nenhum esforço na recuperação do atraso estrutural desde 1986, Portugal encontra-se no abismo de uma economia estagnada e fortemente endividada, num processo de empobrecimento relativo. Uma crise económica e social mais grave que qualquer experiência dos últimos trinta anos.
A responsabilidade de Sócrates tem limites. Ele herdou uma bola de neve produzida pelo populismo dos seus antecessores, nomeadamente Cavaco e Guterres. Ele foi possivelmente o primeiro-ministro que mais fez para travar essa bola de neve, mas o que fez foi insuficiente, e depois perdeu-se nas loucuras eleitoralistas
E agora? Como e quando sairemos do buraco onde estamos metidos? Sinceramente acho que não vamos sair nos próximos dez anos. A década de 2010-2020 será de baixa produtividade, sem o generoso financiamento externo, portanto com uma grave redução do nível de vida dos portugueses. Esperam-nos anos muito duros.
Se os portugueses aprenderam a lição, nas próximas eleições esperam-se políticos com coragem, que digam a verdade, que saibam esclarecer que os próximos dez anos vão ser maus, e o que está em causa é fazer aquilo que não se fez em vinte anos para que a próxima geração possa viver melhor. Se o PS e o PSD voltarem com o discurso eleitoralista, das falsas promessas, das soluções milagrosas que acabam com a crise em 2013 ou 2014, e se os portugueses voltarem a votar nisso, então muito dificilmente teremos um futuro para oferecer aos nossos filhos. Não vale culpar os políticos por tudo o que corre mal. Eles apenas dizem o que os portugueses querem ouvir.

CENTRAIS DE BIOMASSA!

Volto ao tema das centrais de biomassa a propósito do relatório sobre a área de floresta ardida este ano, que aponta para cerca de 126 mil hectares, porque entendo que é uma forma de invertermos esta situação.
As centrais de biomassa caracterizam-se pela produção de energia limpa com recurso aos desperdícios florestais e agrícolas, que servem como fonte de combustão para produção de energia eléctrica.
A criação de centrais de biomassa no interior do país tem várias utilidades e, desde logo, a de ser um pólo de inversão da desertificação, de criação de riqueza, de postos de trabalho e a de contribuir para uma nova gestão da floresta.
O investimento em centrais de biomassa no interior do país, estrategicamente colocadas, permite a ampliação da oferta de emprego, não só para os postos de trabalho da própria central, como também pelo facto de criar uma nova apetência na gestão da floresta, uma vez que a sua matéria prima é precisamente a biomassa produzida pelas florestas e pela agricultura.
A necessidade desta matéria-prima irá gerar uma nova apetência pela limpeza das florestas, tornando-a rentável, posto que a biomassa passará a ser geradora de rendimento, podendo, inclusivamente, criar novas áreas de actividade geradoras de emprego.
Com o desenvolvimento ou ressurgimento desta área de actividade, as florestas passarão a ser cuidadas e limpas, para além do facto de, passarem a ter, quase permanentemente, pessoas que nela circulam, o que, do ponto de vista da prevenção de incêndios é fundamental.
A criação deste ciclo económico, gerador de rendimento, é, por sua vez, um factor importante na diminuição da factura energética do país, pois ao introduzir energia eléctrica na rede pública de origem limpa, fará diminuir a factura da sua importação, bem como a das alternativas do petróleo e carvão.
A vantagem em termos ambientais é evidente, pois produzimos energia que não é poluidora nem geradora de CO2, que, por sua vez, contribui para a manutenção de floresta, também ela, como todos sabemos, consumidora de CO2, alcançando-se, assim, dois objectivos, quais sejam, não produzir CO2 e, simultaneamente, manter a capacidade de absorção de CO2 pela floresta.
Construímos, assim, um ciclo económico completo, desde a sua produção até à sua comercialização, passando pela transformação da matéria-prima, que trará aumento da riqueza ao país e uma diminuição das importações, contribuindo, simultaneamente, para a criação de investimento, postos de trabalho e, não menos importante, um novo olhar para a gestão florestal com ganhos efectivos.
Este ciclo combinado será um importante elemento de prevenção dos fogos florestais, promoverá a limpeza da floresta, diminuindo assim, drasticamente, o flagelo dos incêndios florestais a que todos os anos vimos assistindo.
Paralelamente fará ressurgir o povoamento de zonas desertificadas, com óbvios ganhos em termos humanos e de vivência do território nacional, gerando novas oportunidades de emprego para populações já de si depauperadas e sem perspectivas de vida.
Nesta fase de relançamento da actividade económica o investimento em centrais de biomassa é um importante factor gerador de riqueza a todos os títulos.
Haja vontade política de criar as condições para que as mesmas possam ser instaladas.